O caso Lula: o Ministério Público e a lei como instrumento de criminalização

                                                                                       


     Sergio da Motta e Albuquerque
   







Lula não aceitou o relaxamento de sua injusta prisão. "É direito dele", vociferaram seus acusadores. É a primeira vez que a população brasileira assiste um sistema de justiça acusatório pugnar por um apenado tão odiado pelo Ministério Público. É óbvio que a intenção é enquadrar Lula no papel que lhe foi atribuído por sentença - mas nunca pela realidade de sua vida pública: bandido condenado. Assistimos incrédulos diante do uso de uma tática primária e suja, onde a promoção social do sistema prisional brasileiro foi utilizada como um instrumento de criminalização. Que país é este?

Beneficiar-se da prerrogativa de um condenado comum é aceitar esta condição. Trata-se de legalismo vulgar com intensão óbvia de reafirmar a condição do ex-presidente como condenado, sujeito às reinações da justiça que o condenou. Lula jamais suportará tal humilhação: depois de condenado em uma farsa rocambolesca, digna de um país tribal, seus acusadores, temerosos diante de um futuro cada vez mais imprevisível, agora ainda tentam vesti-lo com o traje  da vergonha dos presos humilhados em público por suas culpas.

Não é o caso do ex-presidente. Lula foi um presidente que trouxe progresso para os empresários e emprego para os trabalhadores. Um presidente duas vezes eleito, que agora está preso em uma sala de uma delegacia em uma pequena cidade do Sul do Brasil. Ele só aceita a liberdade. Ou a prisão sem alívio ou recurso de seus algozes.

Bolsonaro concorda. “Ele que fique lá”, foi mais ou menos o que disse à imprensa. É simplório a ponto de não perceber a força da dignidade daqueles que são capazes de sacrificar a própria vida pelo que acreditam. Para Lula, interessa muito um quadro do tipo “quanto pior, melhor”. O povo brasileiro julga com o coração, é inconstante e muda de lado rápido. A cada dia, a certeza dos acusadores diminui diante da população, cansada de promessas de campanha não cumpridas, e dos fracassos retumbantes da atual administração.

Nossa gente precisa como nunca de um horizonte estável e seguro. Bem diferente de tudo o que foi prometido desde quando depuseram Dilma Rousseff. A economia, já então em más condições, afundou no marasmo, na incerteza e no descrédito, depois daquela aventura inconsequente. E nunca mais se recuperou.

Em outras palavras, o martírio imposto a Lula, de agora em diante, vai custar  muito a quem o condenou. Dentro e fora do sistema judiciário, quase todo contaminado pela impostura da cruzada moralista  hipócrita de Rodrigo Janot e a Operação Lava Jato.