O Vírus da Revolução sem armas


                                                                                                                 
                                                                                                         Sergio da Motta e Albuquerque



Eu vejo as cidades vazias e o reflexo de um céu cinzento nos olhos das pessoas. O planeta inteiro mudou. Eu vejo um mundo em suspenso, e penso que assim os homens um dia farão a verdadeira revolução: aquela que virá do futuro ao presente trazendo a paz, e o fim da tempestade alucinada das metrópoles que cega a humanidade.

Eu vejo a força do trabalho humano, e seu poder de manter a vida neste planeta. Sem a força dos homens e mulheres que levantam com o raiar do sol, restam os banqueiros, os ricos herdeiros, suas inférteis fortunas e vidas vazias. O mundo é vão.

Mas, um dia – que já está muito próximo – os homens e mulheres, que enchem nossas ruas e alimentam as nossas ambições e manhas com seu labor, não sairão mais de suas casas. Não mais sairão em buscas dos velhos ofícios, e sua demanda será apenas esta: ‘voltaremos um dia’, eles anunciarão, ‘quando existir a chance de construirmos um mundo melhor’.

Onde ninguém mais seja escravo de suas aflições. E cada um produza para todos, e receba segundo suas necessidades e nada mais. Voltaremos, quando a ambição não mais lançar irmão contra irmão. E a nossa força será maior que todos os exércitos da morte e suas armas que matam milhões.

Voltaremos, quando o ódio for discriminado, expulso e proibido. Não por lei, mas por aliança entre os homens e mulheres deste mundo.

Voltaremos, e neste dia vai haver o reinado infinito da eterna decência: aquela que não humilha e condena quem perdeu seu caminho, e errou. Daquele dia em diante, a única justiça será o perdão, e sua única instituição, a compaixão.

Um dia, virá essa revolução. Sem mortes, armas, ou obediência a líder de qualquer espécie, raça, ideologia ou crença.

Um dia, o homem e a mulher olharão seu vizinho, e verão em seu rosto o sinal anunciador da esperança de uma vida melhor. Que já chegou. E os crentes dirão: “É o Messias prometido aos homens”. “Ele é uma ideia”, uma vez disse uma mulher em Israel. Eu acreditei nela, pois um dia as religiões caminharão juntas e vivas entre nós, e não mais nos templos, e andarão pelas ruas a fazer maravilhas, e consolar a quem chora.

Um dia, a coragem de romper os laços do medo de perder o pouco que temos vai ter um fim. Por mistério. Por Ordem do Bem. E todos compreenderão que cada um é a solução do outro, e que nós não carecemos de líderes, chefes, comandantes ou patrões.

A partir deste dia, o trabalho será feito por amor, a sociedade do dinheiro vai ter um fim, e ninguém mais será escravo de quem paga para determinar o destino dos outros.

                                                                                          
                                                                                   Rio de Janeiro, ao Nono dia de Abril de 2020